Inconsciente vento passado

O dia aparece como um brisa quente que abafa todo o corpo, invadindo a alma como uma flecha que não magoa, que não fere mas que se prende. Faz palpitar corações despedaçados, corações mundanos, corações frios, corações quentes, corações intermédios, corações apaixonados, todo o tipo de corações. Faz levitar almas entristecidas, almas reluzentes, almas leves, almas pesadas, almas sentidas, almas amadas. E no final do dia, sem sabermos porquê, sonhamos com "elementos" (quase) desaparecidos no nosso consciente. A noite aparece como uma brisa fria que refresca todo o corpo, invadindo a alma como uma flecha que pode magoar, que pode ferir mas que não se prende. Faz palpitar corações e levitar almas. O consciente do dia dá lugar ao inconsciente da noite, trazendo breves brisas que já nos invadiram o corpo e alma noutros tempos, recordando brisas quentes e frias, através do inconsciente, do inconsciente vento passado.
2 Responses
  1. Li Says:

    É verdade… a nossa mente, de facto, é um “poço” de surpresas, umas vezes boas e outras menos boas, mas é tão profunda que nem nós temos a noção daquilo que ela esconde e guardamos dentro de nós.

    Quando cai a noite e tudo se acalma (dando-nos a oportunidade de estarmos a sós connosco), o silêncio penetra em nós permitindo-nos ouvir o ecoar daquilo que se escondia no meio da confusão do dia. De noite, o inconsciente abre espaço entre o consciente e dá-se a conhecer, emergindo de dentro de nós e sobre nós, com a velocidade e a força de um raio de sol que atravessa a escuridão e revela que, afinal, apesar de não visível, tudo se mantinha no seu lugar…


  2. Adão Says:

    A eterna dualidade do dia e da noite, ainda subsiste. Cria-se a ideia que o Sol tende a ser bom e que a malvadez impera nessa lua distante e que gravita em nosso redor. Mais do que isso, e mais do que essa dualidade, impera em nós a vontade de querer ou não, sermos contínuos durante o dia. Esse mesmo dia que nos faz palpitar e exercer a nossa humanidade. Não chega só o facto de enquanto estamos de olhos abertos fazermos aquelas coisas que é socialmente exigível, descansando quando os olhos fecham de cansaço descarregando as vicissitudes de um percurso. Mas mais do que isso, acredito que exista essa diferença que mascaste no teu texto… embora para mim, seja durante o período nocturno e o sono, que se desenham as soluções mais incríveis, para os problemas insolúveis: “ através do inconsciente, do inconsciente vento passado.”