Aquele corpo, que eu já não conheço de cor



Já não conheço de cor aquele corpo.
Sei exactamente a cor da sua pele, sei exactamente o aroma do seu cheiro, sei exactamente os caminhos das suas linhas, conheço exactamente o seu toque, mas já não o conheço de cor.
Sei exactamente o que sentiu o meu corpo, que conheço de cor, quando conheceu o outro, sei exactamente a cor da minha pele, sei exactamente o aroma do meu cheiro, sei exactamente os caminhos das minhas linhas, não conheço exactamente o meu toque, mas conheço o meu corpo de cor.
Sei de cor o que esses corpos sentiam quando se encontravam, descobrindo-se um ao outro, conhecendo-se de cor, sentindo cada movimento tão pormenorizadamente, que esses mesmos corpos, inevitavelmente, se tornavam num só.
Lembro-me de olhar no espelho e observar atentamente, a junção dos dois, de dois corpos que se conhecem de cor.
Já não conheço aquele corpo mas conheço o meu corpo de cor.
Já não conheço aquele corpo, porque não o vejo, porque não o amo, mas conheço o meu corpo de cor, porque não preciso daquele corpo para o conhecer.
6 Responses
  1. Adão Says:

    Sabes que este teu texto, deixou-me um bocado balançado. Porque tem muito de verdade e tem muitas emoções, que provocam as nossas. Que nos puxam memórias, dos corpos que conhecíamos de cor, e que hoje, deixámos de os conhecer, por qualquer motivo. Não precisamos de outros para nos mostrarem o que somos e como somos, mas não podemos esquecer que somos mais fortes juntos e unos. Mas esse conhecimento tão profundo e natural pode acabar de um momento para o outro, porque embora conheçamos de cor determinado corpo… ele altera-se para se tornar estranho ao nosso conhecimento, talvez porque como tu dizes “não o vejo” e “ porque não o amo”.


  2. Adão Says:

    E não será isso que se pretende? Esquecer o conhecimento? Para que possamos evoluir e procura a nossa cara-metade que nos aguarda pacientemente por ai?
    E quando digo esquecer… falo no sentido que permitir libertarmo-nos de uma junção que julgávamos perfeita ou que nunca mais iríamos ter com outra pessoa.


  3. Li Says:

    Ainda bem que temos a maravilhosa capacidade de esquecer, porque é esta capacidade que nos mantém vivos e sãos. O que seria de nós se não fossemos capazes de substituir as memórias de uma sensação, de uma pessoa, de um corpo pertencentes ao passado, por algo novo, diferente? Nunca poderíamos desfrutar totalmente o novo se não esquecermos o que ficou para trás. “A cor da sua pele, o aroma do seu cheiro, os caminhos das suas linhas, o seu toque”, deixarão espaço para outro corpo que, por tudo o que significar no momento da sua união, será muito melhor do que o antigo. O antigo já não existe, já não faz parte do nosso mundo e já se modificou. Resta-nos as memórias, mas mesmo essas vão morrendo, dando espaço para algo perfeito: a junção de dois corpos que se amam que, apesar de já terem conhecido de cor outros corpos e outras linhas, continuam navegando numa plena e constante descoberta do outro e de si mesmos.


  4. Sandytah Says:

    herinha, este teu post ta transmite uma intensidade enorme! talvez tao grande que parece mostrar nos o quao era importante e essencial para ti este corpo que sabes de cor.

    e agr k esse outro corpo se foi embora, tens o teu e tens as memorias, para valorizar e lembrar!

    continua a escrever posts destes hera =)


  5. Li Says:

    Respondi-te no blogue.

    Concordo com a Sanytah, nota-se a importancia que deste e dás (nem que seja apenas pelas memórias) ao corpo que soubeste de cor. De certo que contribuiu para conheceres melhor o teu e assim tornar tudo ainda melhor e mais maduro com o próximo. Mas ainda bem que tens as tuas memórias porque são elas quem nos contrói como pessoas e isso de certeza que também te formou.

    Ah e também concordo que deves continuar a escreves posts destes lolol

    Beijinho


  6. Sandytah Says:
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.